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sábado, 18 de agosto de 2012

A Dicotomia da 'Esquerda' e 'Direita': Mecanismo de Omissão e Manipulação


Muito se debate sobre as viragens, ora à esquerda, ora à direita, das tendências políticas da Europa assim como do mundo. Mas a verdadeira questão não estará tanto na viragem à esquerda ou à direita; o mais importante será identificar os pontos em que os políticos que representam as duas alas, como por exemplo, François Hollande, Barack Obama ou Dilma Rousseff divergem dos 'outros'. Ou seja, o público deveria deixar de se reger somente pela a dicotomia entre 'esquerda' e 'direita' para poder começar verdadeiramente a exigir mudanças estruturais nos sistemas políticos.
Dilma Rousseff, por exemplo, ignorou por completo uma petição assinada por mais de um milhão de pessoas que exigia que fosse parada a construção da barragem de Belo Monte (se adicionarmos a petição da Avaaz, da Amazonwatch, entre outras, o número supera um milhão facilmente), a qual irá submergir 400.000 hectares de floresta tropical e deslocar 40.000 indígenas das suas terras. Ser de 'esquerda' não impediu, claramente, ser completamente submissa aos interesses económicos, não impediu que destruísse a vida de milhares dos seus cidadãos, não impediu que ignorasse a voz de pessoas de todo o mundo, não impediu que nada fizesse sobre esta construção que será, inevitavelmente, ecologicamente desastrosa.

Obama, por sua vez, prometeu muita mudança, mas trouxe somente continuidade. Guantanamo ainda está aberta, as guerras no Médio Oriente e em África continuam, e aliás, até foram iniciadas mais umas (sobretudo, mas não só, Líbia, Iémen, Síria, todas elas com infiltração da CIA muito forte nos respectivos movimentos de 'liberação', sendo igualmente as intervenções no Paquistão e no Afeganistão continuadas e aprofundadas). Em termos sociais, nada se ganhou com a América de Obama.

Já o Hollande, que é o cobarde de entre os cobardes, é mais um maçon (membro da mais notória plataforma dos ricos e poderosos na França, o Grand Orient de France), que veio recentemente a dizer que afinal as contas do Estado Francês estão piores do que tinha pensado. Ora, já está a abrir caminho para não cumprir as promessas de quebrar com a austeridade. É, como Barack Obama, mais um fantoche que nada irá mudar, excepto a capacidade acrescida que terá para adormecer uma parte da ala 'esquerda', que por afiliação partidária ou ideológica será menos capaz de aceitar a verdade que somente reformas profundas poderão inverter a tendência de perda de direitos civis e empobrecimento, e essas reformas não serão os nomes referidos a trazer de certeza.
A dicotomia que divide a 'esquerda' e 'direita' perpetua a política de carrossel, onde, ora um partido de esquerda, ora um de direita, entram e saem do governo, dando a ilusão de mudança, ocultando assim a continuidade das políticas e dos resultados das mesmas. É assim que a capacidade crítica da população é limitada, é assim que muitos analistas políticos são lobotomizados, tornando-se incapazes sequer de comtemplar, quanto mais exigir, transformações estruturais profundas, pois passam todo o seu tempo a discutir as (relativamente) pequenas diferenças entre as medidas e ideologias dos grandes partidos. O constante debate entre '‘esquerda' e 'direita', por se concentrar demasiado entre as diferenças, esconde as similitudes, os eixos que permeiam os dois: são estes eixos que levam a que o povo tenha chegado há muito à conclusão de que, quer se vote nuns ou noutros, o resultado é sempre igual. É esta política de carrossel, e as consecutivas encenações que tentam mascarar a tirania de democracia, as eleições que passam pouco mais hoje em dia de eventos teatrais onde os escolhidos do sistema fingem debater (quando de facto, discutem somente sobre migalhas, omitindo as verdadeiras questões do debate político), que cultivou o divórcio cada vez mais óbvio entre a população e a classe política. Mais ainda, o divórcio não é somente entre classes, é um divórcio entre o povo e o próprio acto eleitoral, como o demonstram as elevadíssimas taxas de abstenção.
A verdadeira questão deveria ser, portanto, a de encontrar soluções viáveis para que possamos conseguir reformar o Estado para que este possa deixar de ser exclusivamente o veículo através do qual os ricos e poderosos conseguem atingir os seus objectivos e consolidar o seu domínio. Que reformas estruturais poderão ser aplicadas para que o Estado não possa ser instrumentalizado pelas elites económicas? A resposta é óbvia: através de transformações estruturais profundas e abrangentes que possam reconceitualizar a própria função do Estado, mudando a natureza das suas instituições para que possam ser transformadas as atitudes e acções daqueles que o operam. Resta definir exactamente que as reformas que deverão ser implementadas, e mais difícil ainda será definir estratégias realistas para o poder fazer. Somente ao cessarmos de nos dividir sobre discórdias menores é que nos poderemos unir à volta de vontades comuns, nomeadamente a de construir um Estado menos corrupto para que possa emergir uma sociedade mais justa.

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