Conceito
O Sionismo é um movimento político e filosófico que defende o direito à autodeterminação do povo judeu e à existência de um Estado Judaico independente e soberano no território onde historicamente existiu o antigo Reino de Israel.
O Sionismo é também chamado de nacionalismo judaico e, historicamente, propõe a erradicação da Diáspora Judaica e o retorno da totalidade dos judeus ao actual Estado de Israel.
Terminologia
O termo “Sionismo” é derivado da palavra “Sion”, que em hebraico significa elevado.
Originalmente, Sião ou Sion era o nome de uma das colinas que cercam a Cidade Santa, onde existiu uma fortaleza com o mesmo nome. Durante o reinado de David, “Sião” tornou-se um sinónimo de Jerusalém ou da Terra de Israel. Em inúmeras passagens bíblicas, o povo israelita é também conhecido por “filhos de Sião”.
Percursores do Sionismo
São considerados percursores do Sionismo alguns pensadores e religiosos judeus que expressaram nas suas obras o desejo ancestral do povo judeu de regressar às suas origens históricas, à sua terra de origem.
Por outro lado, o nacionalismo judaico é consequência directa dos diversos movimentos nacionalistas que surgiram no ocidente, a partir do Iluminismo e das revoluções francesa e americana.
Os primeiros sionistas foram membros do clero judaico, como os rabinos Yehudá Alkalay, Naftali Berlin, Zvi Kalischer, Shmuel Mohiliver e Yitzchak Yaacov Reines.
Pela narrativa religiosa tradicional, o Sionismo surgiu logo após a queda do Segundo Templo e a consequente expulsão dos judeus dos territórios do antigo Reino de Israel, entre os anos 66 e 135 d.C.
O Sionismo Moderno
O chamado “Sionismo Moderno” desenvolveu-se a partir da segunda metade do século XIX, em especial entre os judeus da Europa Central e do Leste Europeu, que viviam sob a pressão das perseguições e massacres sistemáticos provocados pelo anti-semitismo crónico destas regiões.
O século XIX foi uma época de erupções nacionalistas em todo mundo. Gregos, italianos, polacos, alemães e sul-americanos, entre outras nações, estabeleceram os seus movimentos nacionais em busca da sua identidade política, étnica e cultural. Seguindo estes modelos, o Sionismo foi o mais recente dos processos de renascença nacional a despertar na Europa.
O Sionismo também pode ser considerado como uma reacção ao crescente assimilacionismo provocado pela integração dos judeus da Europa Central aos povos e comunidades onde se encontravam estabelecidos, colapsando as bases culturais e religiosas fundamentais do Judaísmo tradicional.
O Caso Dreyfus como impulso
No final do século XIX, os judeus que possuíam uma condição social mais elevada (em geral os habitantes dos países da Europa Ocidental) julgavam-se mais seguros contra as perseguições anti-semitas que vitimavam os judeus do Leste, mais agarrados às tradições, uma vez que se encontravam plenamente inseridos na sociedade.
No sentido cultural, estes judeus pouco diferiam dos seus vizinhos cristãos e muitos abandonavam as práticas religiosas ou convertiam-se ao Cristianismo como forma de selar o processo de completa assimilação.
Entre estes judeus encontrava-se Theodor Herzl que, na sua juventude, chegou a pedir em carta ao Papa que ajudasse os judeus de toda a Europa a converterem-se colectivamente ao catolicismo.
A partir do final da década de 1880, Herzl passou a assinar artigos na imprensa alemã e, graças a isso, recebeu um convite para se tornar correspondente do jornal “Neue Freie Presse” em Paris, onde cobriu o julgamento do militar Alfred Dreyfus.
Dreyfus era um oficial judeu do Exército Francês acusado injustamente de espionagem a favor dos alemães.
Ao testemunhar a série de fraudes engendradas por elementos da oficialidade francesa para culpar Dreyfus com alegações anti-semitas, Theodor Herzl deu-se conta de que nem a assimilação de culturas aparentemente “superiores” seria capaz de livrar os judeus da discriminação.
Em 1895, com base nestas reflexões, Herzl escreve a sua principal obra, "Der Judenstaat – Versuch Einer Modernen Lösung der Judenfrage" (“O Estado Judeu – Uma Solução Moderna para a Questão Judaica”), onde preconiza a necessidade da reconstrução da soberania nacional dos judeus dispersos, num Estado próprio.
Em “O Estado Judeu”, Herzl descreve de forma romanceada as suas visões de como tornar possível a construção de uma futura nação judaica, discorrendo sobre imigração, compra de terras, edificações, leis, idioma, etc.
Muitas das visões de Herzl serviriam de inspiração para os primeiros legisladores do futuro Estado de Israel.
O Congresso Sionista
Herzl organizou o Primeiro Congresso Sionista, realizado na cidade suíça de Basileia, em 29 de Agosto de 1897.
O Congresso Sionista tinha como propósito de demonstrar ao mundo "o que é o Sionismo e o que pretende". O Congresso foi criado também para unir todos os sionistas sob uma só organização.
O 1º Congresso Sionista era para ter sido realizado em Munique, na Alemanha. Contudo, os líderes religiosos da comunidade judaica local opuseram-se à iniciativa, por temerem uma exposição excessiva e uma possível retaliação anti-semita.
Ao congresso de Basileia compareceram cerca de 200 participantes. As maiores realizações do Congresso foram a formulação da plataforma sionista, conhecida como “Programa de Basileia”, e a fundação da Organização Sionista Mundial, sob a presidência de Herzl.
Nesta reunião, discutiu-se onde se deveria instalar o Estado Judeu, dividindo-se os congressistas entre a Palestina Otomana ou algum território desabitado cedido aos sionistas, como a ilha de Chipre, a Patagónia e ou algumas das colónias europeias em África, como o Congo ou Uganda.
Venceram os partidários da Palestina, com o argumento de que aquela era a região de origem de toda identidade judaica na Antiguidade.
Foram realizados 21 Congressos Sionistas até a eclosão da Segunda Guerra Mundial.
Oposição Judaica ao Sionismo
Segundo alguns autores, a intenção de imigrar e viver na Palestina seria algo distante das intenções reais da maioria dos judeus, estando presente apenas enquanto referência religiosa.
Abraham Leon escreve, em 1942, que "durante o tempo que o Judaísmo ficou incorporado ao sistema feudal, o 'sonho de Sião' não foi precisamente mais que um sonho e não correspondia a nenhum interesse real (...). O taberneiro ou o 'granjeiro' judeu da Polónia do século XVI pensava em retornar à Palestina tanto quanto o milionário judeu da América de hoje."
A tese do regresso ao lugar de origem ganhou a grande maioria dos adeptos por ter forte apelo religioso, baseado na redenção do povo de Israel e na “Terra Prometida”.
Por outro lado, outras correntes religiosas (em especial as fundamentalistas) consideravam essa tese uma compulsão heróica e sentimental, e alguns até a reprovavam duramente, alegando que esta “redenção” deveria vir obrigatoriamente pela “obra de Deus” e não de acções políticas.
Outros judeus a não aderir ao Sionismo foram os adeptos do budismo. No entanto, essas visões foram-se tornando gradualmente minoritárias com o passar dos anos e o crescimento da Organização Sionista.
Nos dias de hoje, a oposição judaica ao Sionismo está restrita a alguns membros de seitas religiosas, como os haredim, e adeptos de ideologias internacionalistas de esquerda.
A Palestina e a Terra de Israel
A região da Palestina, onde historicamente existiu uma pátria judaica, encontrava-se desde o ano de 638 sob o jugo árabe muçulmano.
A partir de 1517, o Império Turco-Otomano incorporou aquelas terras, tornando-se a Palestina uma província turca, status que duraria até o início do século XX.
A presença dos judeus na região permaneceu ininterrupta por todo este período, embora em condição de minoria. Em algumas cidades, como Hebron (na cidade da Cisjordânia) e Safed (na cidade da Galileia), a presença das comunidades judaicas era mais numerosa e importante, convivendo em relativa paz com a maioria muçulmana.
Havia também a tradição judaica de migrar para a Palestina para lá morrer e ser sepultado, ou para estudos religiosos nas diversas yeshivot instaladas na região.
Estas escolas de formação rabínica recebiam recursos doados por organizações filantrópicas, mas, na segunda metade do século XIX, algumas destas organizações, como a Aliança Israelita Universal, passaram a investir na fundação de cidades e fazendas colectivas, dentro de um espírito socialista e secular.
Assim, Mikveh Israel foi fundada em 1870, seguida por Petah Tikva (1878), Rishon LeZion (1882) e outras comunidades agrícolas fundadas pelas sociedades Bilu e Hovevei Zion.
Mas com a primeira grande leva de imigrantes judeus chegados à Palestina, a partir de 1881, a demografia na Palestina começou a sofrer a sua primeira grande mudança em séculos. Estas ondas (chamadas aliot), oriundas principalmente do Império Russo e do Iémen, acabaram por gerar mais cidades e comunidades agrícolas.
Estas primeiras aliot independentes serviriam de modelo para as imigrações que viriam nos anos seguintes, já sob o estímulo da Organização Sionista de Herzl.
Até meados do século XIX, a população total da Palestina registava um decréscimo lento. As migrações judaicas vieram inverter este quadro e, no início do século XX, a região registou o primeiro aumento demográfico em séculos. A população de judeus chegou a 10% do total antes de 1909, quando foi fundada a cidade de Tel Aviv, a primeira cidade exclusivamente judaica desde a Antiguidade.
As divisões do Sionismo
Fonte: Wikipédia
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